Ônibus sem catraca circulam hoje em Goiânia

Ação proposta pela RMTC prevê conscientização e honestidade dos usuários de ônibus

18/12/2015 - O Hoje

Jéssica Torres


Para os goianienes que usam o transporte público coletivo na capital goiana, poderão encontrar hoje uma surpresa: ônibus sem catraca. Esta é uma ação do Consórcio RMTC que está disponibilizando o veículo saindo do Terminal Bandeiras.

De acordo com a assessoria da RMTC, os veículos foram adaptados com o objetivo conscientizar as pessoas de que a catraca é apenas uma ferramenta que se tornou hábito, mas que independente dela estar ou não ali é importante que o usuário do transporte coletivo valide o bilhete ou o cartão.

O intuito da ação é entender também como o cliente se comporta diante de uma situação dessas, já que em alguns países da Europa, esse modelo é bem comum no embarque do transporte público. Assim, os dados coletados servirão de parâmetro para saber se a Região Metropolitana de Goiânia poderá seguir essa referência num futuro.

Uma das atitudes que mais preocupa as empresas de ônibus é justamente em relação ao passageiro que entra em terminais ou coletivos sem pagar, pulando a catraca, por exemplo. “O prejuízo que é causado à população é em torno de R$ 40,3 milhões por ano. Isso daria pra comprar em torno de 151 novos ônibus”, destaca o diretor da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC), Leomar Avelino.

Segundo a estudante Paula Pereira, de 23 anos, que fez intercâmbio na Europa, esta é uma idéia valida e importante para os goianos se habituarem, mas que ainda é algo difícil hoje. “Na Espanha o ônibus é relativamente vazio, ou então ela vai em pé com dignidade todos os dias, mas aqui infelizmente não é assim”, afirma. “Mas sinceramente a primeira oportunidade que eu tivesse de entrar nesse ônibus direto sem pagar eu iria, isso porque não oferecem serviço de qualidade para nós”, confessa.

De acordo com o engenheiro elétrico, doutor em transporte e professor de Engenharia do Transporte pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Willer Carvalho, a iniciativa é válida e importante para iniciar a discussão sobre o tema, mas é um caminho que ainda precisa da educação para ser alcançado. “Existem países em que o sistema de metro não tem uma pessoa verificando a entrada e nem possuem catraca para as pessoas passarem. Ao invés disso em alguns lugares ficam apenas fiscais que pedem a comprovação do bilhete”, exemplifica.

“É fundamental que a sociedade discuta sobre o uso desse bem público, já que o número de fraudes é grande, por pessoas que pulam catraca ou mesmo que usam cartão de outro até mesmo de pessoas que já morreram”, relata. “A experiência é importante mas tem que avaliar a efetividade”, pondera. 

Porém o especialista ressalta a dificuldade desta mudança, já que estamos em um país com cultura diferente. “Existe uma parcela considerável que têm o jeitinho brasileiro, para levar vantagem em tudo. A política reflete o que é a sociedade também, no qual as pessoas praticando estas ações de pequenas fraudes corrompem o sistema”, destaca. Se funcionar a eliminação da catraca seria ótimo, principalmente para gestantes e pessoas com mais pesos que ficam limitadas. Mas este é o primeiro passo”, conclui.

Ações de mobilização 

Esta não é a primeira ação que vêm sendo implantada pelas empresas responsáveis pelo transporte público da capital. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros (Setransp) lançou no mês passado uma campanha para combater fraudes no transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia, em relação ao uso do Cartão Fácil por pessoas que não são beneficiadas.

Para alertar e tentar inibir essas ações, algemas foram colocadas em ônibus, pois usuários flagrados cometendo irregularidades podem ser presos. Além das algemas, outra medida da campanha foi colocar bonecos em tamanho semelhante ao de humanos sentados dentro de ônibus. Eles ficaram vestidos e, na camiseta, havia a mensagem: “Quem frauda o transporte coletivo ocupa o lugar de quem paga”. A campanha chamou a atenção de usuários e muitos criticaram a instalação de algemas.