Eles não ‘pegaram’ e ainda dão prejuízo

02/12/2012 - O Hoje

A aposentada Maria de Oliveira, de 52 anos, nunca andou em um Citybus. Segundo ela, os micro-ônibus são muito caros e apenas para ricos. Ela não é exceção. Muita gente nunca andou ou utilizou o transporte diferenciado por poucas vezes desde que ele foi criado, em 2009. O preço e as rotas são as principais reclamações dos usuários do transporte coletivo, que pedem mudanças. Segundo a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), o veículo era muito solicitado pelas classes A e B, mas não pegou. Hoje, com quatro linhas a menos, os Citybus precisam ser rediscutidos e a criação de novas rotas está suspensa.

Diretora técnica da CMTC, Áurea Pitaluga conta que, desde sua concepção, o Citybus foi pensado para ser um veículo diferenciado. Segundo ela, foi feita uma pesquisa para identificar quem seria o público que utilizaria os micro-ônibus e as classes A e B demonstraram bastante interesse. "Muita gente dizia que deixaria o carro para andar de ônibus se existisse um serviço desse tipo", afirma. Foi pensando nisso que as 14 linhas do Citybus – que inicialmente tinha 55 veículos – foram criadas atendendo regiões mais nobres e passando próximo a condomínios, escolas e clínicas, conforme havia sido solicitado. Áurea lembra que o Citybus não tem nenhum vínculo com a rede convencional e que seu custo sempre foi outro.

A diretora da CMTC admite, no entanto, que a ideia não deu certo e até arrisca dizer o motivo. "As pessoas não aderiram porque querem comparar o transporte coletivo com o carro. Muita gente pensa que um transporte de qualidade é aquele que pega na porta, na hora que quer e que é rápido. Isso é a definição de carro. Com o transporte coletivo nunca vai ser assim, porque é público, é algo compartilhado", afirma. Ela lembra que a linha que passa no aeroporto era a aposta da empresa e transporta em média apenas 300 pessoas por dia. Já a linha que vai até o Garavelo, onde o público é outro, anda sempre cheia e chega a transportar 800 pessoas por dia.

CMTC busca justificativas para fracasso

Como as pessoas não deixaram o carro em casa para andar de ônibus, o Citybus precisou ser repensado. Ainda no mesmo ano em que foi criado a CMTC resolveu mudar o público e adequar a rede. As linhas foram reestudadas e reduzidas para 12. A tarifa – que era de R$ 4,50 – foi reduzida na tentativa de agregar mais passageiros. Depois disso, a demanda aumentou – os micro-ônibus chegaram a transportar 150 mil passageiros por mês. Mesmo assim os passageiros nunca foram suficientes para manter o sistema, que, segundo a diretora técnica da CMTC, sempre deu prejuízo. "Agora é um prejuízo administrável, mas a despesa do Citybus sempre foi maior que a receita", comenta.

Hoje, o Citybus tem dez linhas e 30 veículos. Não funciona em domingos e feriados e em dias de semana roda das 6 às 19 horas. Nos sábados, só até às 14 horas. Os micro-ônibus até emendam feriados. Áurea explica que é dessa forma porque não compensa manter o serviço em outros dias e horários, já que os ônibus andam, na maioria das vezes, vazios. "É até incoerente. Nos finais de semana e feriados as pessoas têm tempo, mas mesmo assim preferem ir de carro", comenta.

O público médio mensal é de 103 mil passageiros, 30% estudantes. Os preços atualmente variam: R$ 3,50 em dinheiro ou moeda, R$ 2,70 para estudantes e R$ 5,40 com direito a integração. De acordo com a diretora técnica da CMTC, o sistema por enquanto vai continuar como está. Áurea concorda que o Citybus precisa ser reavaliado, mas afirma que por enquanto não existe nenhum pedido de estudo. "Desde maio congelamos a rede até termos uma posição sobre o Citybus. A criação de linhas está suspensa", afirma.

Áurea lembra que o Citybus foi estudado, inspirado em Porto Alegre, onde esse tipo de serviço diferenciado funciona há muito tempo. "Acredito que lá dá certo porque estacionamento é muito caro e é muito difícil encontrar vaga. Por isso muita gente já aceita a ideia de deixar o carro em casa", pontua. Segundo ela, o Citybus só deve funcionar em Goiânia quando o transporte privado passar a ser bem mais caro que o coletivo, quando a dificuldade para estacionar for muito grande ou quando o transporte coletivo for mais rápido. "Essa é a nossa esperança com a construção dos corredores exclusivos para ônibus, que eles finalmente sejam mais rápidos que os carros. Com mais velocidade e regularidade poderemos repensar esse serviço", afirma.

Usuários pedem mudanças nas linhas

A estudante Lorena Bonfim, de 31 anos, sempre utiliza o Citybus para ir do Centro para o Câmpus II da Universidade Federal de Goiás. Segundo ela, o conforto compensa o preço. "Eu acho o Citybus ótimo, o ônibus convencional que vai para o Câmpus está sempre lotado", comenta. Ela conta que só não utiliza mais os micro-ônibus porque as linhas não atendem às suas necessidades. "Eles têm umas rotas grandes demais, que eu nem entendo", diz.

A dona de casa Elisandra Silva, de 39 anos, mora no Setor Novo Mundo, e reclama que nenhuma linha do Citybus passa próximo a sua casa. "Se tivesse e aceitasse carteirinha, eu só andava nele", afirma. A estudante Luciene Nunes da Costa concorda. Ela mora no Setor Coimbra e também não existe nenhuma linha que vá para o bairro.

"Eu ando de vez em quando, mas, se fosse para onde eu vou, eu andaria todos os dias. O Citybus precisa parar de ser pensado para gente rica. Esses não vão andar de ônibus, não adianta", diz. Luciene elogia os micro-ônibus e diz que não acredita que baixar o preço seja necessário. "Acredito que muita gente pagaria, mesmo sendo mais caro, se as linhas atendessem mais às necessidades do povo", opina.

Fonte: O Hoje



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